domingo, 21 de novembro de 2010

Bem-Vindo(Welcome)

Filme: BEM-VINDO (Welcome)
Diretor: Philippe Lioret
País: França
Ano: 2009
Elenco: Vincent Lindon, Firat Ayverdi, Audrey Dana, Derya Ayverdi.

Bilal (Firat Ayverdi), de 17 anos, é um refugiado curdo oriundo da região norte do Iraque que, em companhia de outros refugiados, incluído um antigo conhecido, Zoran, do mesmo grupo étnico, tenta chegar à Inglaterra mediante a travessia do Canalda Mancha: de Calais, França, a Dover, Inglaterra. O sonho de Bilal é jogar no clube de futebol Manchester United, da Inglaterra, sendo a meta imediata reencontrar a namorada curda, Mina (Derya Ayverdi), que vive em Londres com a família, tendo o pai, infenso ao namoro, trabalho fixo e, portanto, visto de permanência no país. Sempre tenta falar com a moça por telefone, mas sem sucesso. No decorrer do filme, ficamos sabendo que a jornada do norte do Iraque até Calais teria levado dez semanas: uma distância de cerca de 4 mil quilômetros



O grupo de refugiados, no começo do filme, empreende uma tentativa frustrada de travessia clandestina em um “ferryboat”, mais precisamente dentro do compartimento de carga de um caminhão. Tudo arranjado por um agenciador ao custo de 500 euros por cabeça. O grupo acaba sendo descoberto pela polícia de imigração em virtude do uso de um aparelho que detecta a presença no ar de moléculas de dióxido de carbono resultantes da respiração humana. O recurso utilizado pelos refugiados é a respiração em sacos plásticos durante a fiscalização dos agentes, mas justamente Bilal não consegue permanecer com a cabeça dentro de um saco plástico por muito tempo e o grupo todo é flagrado e detido na tentativa de passagem ilegal para a Inglaterra. Depois de soltos (fugitivos de países em guerra não podem ser deportados), um dos refugiados do grupo recrimina veementemente Bilal e exige uma compensação financeira exatamente o valor pago ao atravessador












Bilal, então, perambula pela área costeira de Calais. Na cena seguinte, ele entra em uma academia de natação e é lá que conhecemos Simon Calmant (Vincent Lindon, em excelente desempenho), professor de natação e antigo nadador profissional premiado, e descobrimos a verdadeira intenção de Bilal: aprender a nadar para uma travessia a nado pelo Canal da Mancha. Calmat, inicialmente reticente, hesitante, com má vontade e indisfarçável enfado, aceita ensiná-lo a nadar mediante uma remuneração básica. Só adivinha a verdadeira intenção de Bilal mais tarde e tenta dissuadí-lo da arriscada aventura. O rapaz não fala francês, mas eles se comunicam em inglês

Calmant vive um doloroso processo de separação da esposa, Marion (a bela e expressiva Audrey Dana), sobre cujos motivos nada ficamos sabendo, porém ambos convivem amigavelmente enquanto aguardam a assinatura dos papéis do divórcio e percebemos que a iniciativa do rompimento não teria sido dele. Há ainda o brilho do afeto no olhar dele. O desinteresse, o desânimo, o tédio, dão o tom ao comportamento dele no dia-a-dia e na atividade profissional


A obstinação de Bilal vence a indiferença inicial de Simon, que se afeiçoa progressivamente, ao refugiado como se fosse este um filho. O dedicado e teimoso esforço do jovem refugiado inspira Calmant a cruzar um marco de ruptura no marasmo que é sua rotina diária, ou seja, passa por uma transformação e começa a se envolver mais com o mundo ao redor. É inevitável que o francês faça uma comparação entre a própria incapacidade de manter um casamento e a perseverança do rapaz curdo em uma verdadeira epopeia de encontro à mulher amada. Esse ponto de inflexão na vida do francês é uma dos destaques da película em análise: uma mudança de comportamento revelada com sutileza. Calmant chega ao ponto de não se preocupar com as conseqüências do ato de hospedar refugiados (Bilal e o amigo Zoran) em casa o que constitui um crime passível de condenação, segundo informação de um inspetor de polícia que o convoca à repartição policial para uma admoestação. Nem a ex-esposa Marion, que faz parte de um grupo de voluntários que dá assistência aos refugiados ousa se envolver pessoalmente dessa maneira, pois toma todo o cuidado para não transgredir as regras de imigração com os refugiados, e, portanto, o adverte para não correr riscos desnecessários. Calmant, enfim, visceralmente imbuído, passa a incentivar a travessia a nado de Bilal e o treina com afinco. Pelo celular do instrutor francês, Bilal consegue, afinal, se comunicar um par de vezes com Mina

A polícia, truculenta, vigia de perto os cidadãos para que não dêem guarida aos imigrantes e refugiados: chegam a invadir a casa de Simon, por denúncia de um vizinho de porta xenófobo e intrometido (que, ironicamente, tem um capacho na porta de entrada com a inscrição “Welcome”), sem mandado judicial, o que dá a dica sobre a política draconiana de imigração do atual governo francês. Ademais, os refugiados, costumeiramente, são agredidos pela polícia

Antes da travessia, Calmant dá a Bilal um anel de diamantes e safira que a esposa perdera, e que foi achado dentro do sofá da sala do apartamento e não foi devolvido, para que o rapaz presenteie a namorada em Londres. Há pressa, pois a moça está prometida pelo pai a alguém de uma família bem colocada na colônia curda da capital inglesa.

Um pequeno grande filme, simples, mas tocante, do diretor francês Philippe Lioret, de 55 anos, pouco conhecido entre nós. Poucos diálogos; cenas eloquentes.